Partida
Era uma dor insuportável! A morte de sua mãe! Parecia uma faca cravada no peito, um corte profundo, uma batida violenta! Não saberia explicar.
Não havia crédito no celular. Como sempre, também faltava o dinheiro na carteira.
Nos últimos dias de vida desenvolveram uma profunda amizade. Cheia de confissões. Ela, sua mãe, concluir com sucesso o curso de enfermagem possuía uma visão política digna de grandes políticos.
Antes que a doença lhe tomasse o corpo (a mente permaneceu brilhante até o fim), lembra-se dos comícios que participaram juntas. Eram horas esperando a chegada do então candidato a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Choveu muito naquele dia.
Foi uma época incrível! A palavra chave de nossas vidas era: Utopia!
Sua mãe não acreditava que o homem realmente pudesse ter chegado até a lua. Era muito irreal para a sua utopia.
Não sabia quem estava mais doente se era ela ou sua mãe.
Sua dor era da alma, enquanto a de sua mãe, como já disse, era do corpo.
Houve um momento em que a dor dilacerava-lhe o peito e choro era compulsivo. Sua mãe arrastou-se em sua cadeira de rodas, pousou-lhe as mãos sob sua cabeça e disse-lhe que dias melhores viriam. Hoje, estás no chão. Amanhã, o sol brilhará. E então cantava:
“… Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que dei
Quero ver quem dava
Uma mulher de valor
Não fica no chão
Nem quer que ninguém venha lhe dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta sacode a poeira
E dá a volta por cima..”
Ainda hoje, nos momentos difíceis, Clarice canta esta canção a ela mesma.
imagem: sarahlaurenmc44
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